AGENDA (RUSSA) DO “CAMPEÃO DA PAZ” TRAMA ZELENSKY

O general João Lourenço, presidente (não nominalmente eleito) de Angola, também Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo, declinou o convite do homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, para participar na cimeira de paz na Ucrânia, que terá lugar na Suíça, no próximo mês, alegando motivos de agenda. Abdica assim de ser o “campeão da paz” fora de África…

De facto, a agenda do general João Lourenço está repleta para os próximos 10 anos, pelo menos. No passado dia 23 de Abril o embaixador russo em Angola, Vladimir Tararov, reconheceu a dificuldades (de agenda) para João Lourenço deslocar-se à Rússia, a convite de Vladimir Putin, em Maio do próximo ano.

Segundo Vladimir Tararov, o general João Lourenço aceitou o convite de Vladimir Putin para participar, em Moscovo, a 9 de Maio de 2025, nas “comemorações da vitória sobre o fascismo”, na II Guerra Mundial. Se Volodymyr Zelensky tivesse metido uma cunha ao “querido líder” russo…

“Isso tem grande importância para nós, porque convidamos os nossos amigos mais próximos para que possam partilhar connosco a alegria da vitória contra o fascismo, isso tem grande importância para todo o mundo, porque desta vitória saiu a descolonização, a libertação nacional de vários países, não só da África, mas também da Ásia, e temos muitas coisas para discutir e compartilhar entre nós”, referiu o embaixador russo.

Cometendo o gravíssimo erro de não se aconselhar com o “campeão da paz” de África, Volodymyr Zelensky afirmou durante a sua recente visita a Bruxelas, que Vladimir Putin iria tentar “estragar” a Conferência para a Paz organizada pela Suíça, e que está agendada para os dias 15 e 16 de Junho no cantão de Nidwalden, arredores de Lucerna. Zelensky instou o presidente norte-americano, Joe Biden, a participar no evento, afirmando que a sua ausência “seria o mesmo que aplaudir Putin”.

“A cimeira de paz precisa do presidente Biden”, declarou Zelensky numa conferência de imprensa, em Bruxelas. “A sua ausência seria o mesmo que aplaudir Putin”, afirmou.

Os Estados Unidos são o principal apoiante da Ucrânia face à invasão russa, dos últimos dois anos, mas Washington ainda não confirmou a presença de Joe Biden na Conferência de Paz. O presidente norte-americano deverá estar na Europa nas mesmas datas, para participar numa cimeira do G7 em Itália.

O presidente ucraniano afirmou que os países que evitam participar na cimeira para a paz, na Suíça, estão “satisfeitos” com a guerra na Ucrânia. Com afirmações deste tipo Zelensky está a irritar o general João Lourenço. E quando o dono de Angola se chateia, fica mesmo… chateado!

“Só há dois cenários: a paz verdadeira ou um novo prolongamento da guerra”, disse o líder ucraniano, que acredita que a cimeira na Suíça pode servir para “obrigar a Rússia a fazer a paz”.

“É absolutamente, absolutamente possível. Tudo depende da determinação dos líderes mundiais e da escolha real de cada Estado: se quer estabelecer uma paz verdadeira ou se está satisfeito com a situação actual, ou seja, se está satisfeito com a guerra”, considerou Zelensky.

A três semanas da realização da Cimeira da Paz na Ucrânia, na Suíça, mais de 70 países e organizações confirmaram a presença na Cimeira, anunciou o Ministério suíço dos Negócios Estrangeiros (FDFA). Entre os participantes encontram-se a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, o chanceler alemão, Olaf Scholz, o presidente francês, Emmanuel Macron e o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau.

No dia em que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, foi a Lisboa para assinar um novo acordo bilateral de segurança e cooperação, Portugal confirmou a sua presença na Cimeira, garantindo o seu empenho em ajudar a Ucrânia, não apenas militarmente, mas também nos encontros diplomáticos das próximas semanas.

Será o próprio presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a chefiar a delegação portuguesa na Cimeira da Suíça, a qual incluirá o ministro do Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel.

O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, na conferência de imprensa ao lado do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, depois de terem assinado um acordo bilateral de segurança e cooperação que prevê o apoio militar de pelo menos 126 milhões de euros em 2024.

“Se querem a paz, vamos reunir-nos na cimeira da paz. É bom que preparemos esta plataforma com outros parceiros, porque a guerra está connosco (…) Nós somos as vítimas, somos atacados e mortos”, declarou Volodymyr Zelensky. Mas “se querem guerra, vão participar na reunião que a Rússia quer organizar”, insistiu o presidente ucraniano, apelando à comunidade internacional para que a evite.

O Kremlin reagiu, afirmando que era “absurdo” e “inútil” realizar uma cimeira de paz na Ucrânia sem a participação da Rússia, que até ao momento não recebeu nenhum convite de Kiev.

“Do nosso ponto de vista, esta conferência é absolutamente inútil para encontrar uma solução para o conflito na Ucrânia”, declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, numa entrevista à estação pública russa RT. “É de facto absurdo reunir e discutir seriamente estas questões sem a participação do nosso país”, sublinhou.

Voltemos a Angola para perguntar: em quantos tabuleiros joga o MPLA? O ministro das Relações Exteriores, Téte António, recebeu no dia 26 de Janeiro o embaixador russo Vladimir Tararov, com quem avaliou o estado das relações bilaterais e a exploração de novas oportunidades de cooperação entre os dois países.

Pelo sim e pelo não, o MPLA (governo) mantém o suposto ou fictício divórcio com Moscovo em… “stand by”. Por alguma razão o general é, é, é o “campeão da paz”.

Angola (o MPLA, mais exactamente) e a Rússia têm relações privilegiadas desde 8 de Outubro de 1976, data em que foi assinado, em Moscovo, na altura capital da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), o Tratado de Amizade e Cooperação.

A 16 de Novembro de 2004, os dois países rubricaram, em Luanda, um acordo para o relançamento da cooperação nos domínios económico e técnico-científico e, no dia seguinte, criaram a comissão intergovernamental de cooperação económica, técnico-científica e comercial.

Actualmente, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores, a cooperação entre os dois países é mais significativa nos sectores da energia, geologia e minas, ensino superior, formação de quadros, defesa e segurança, telecomunicações e tecnologias de informação, pescas, transportes, finanças e banca.

Em 2019, a Rússia garantia que queria reforçar a cooperação com Angola, então baseada sobretudo no sector diamantífero, nos domínios do turismo, extracção de recursos minerais, indústria, formação de quadros e agricultura.

Sobrará ainda alguma coisa para os velhos camaradas do MPLA explorarem?

Na altura, segundo o embaixador Vladimir Tararov, que anunciava a visita a Angola de uma delegação de 18 empresários russos, a cooperação bilateral iria “ajudar a erguer a economia e a indústria”. Disso não tenhamos dúvidas. Eles vão entrar com o “know how” (saber) e nós com as riquezas. Depois? Bem. Depois nós ficamos com o “know how” e eles com as riquezas. Simples. Simples para quem não tem, como acontece com os dirigentes do MPLA, o cérebro nos intestinos.

“O Presidente João Lourenço disse que isso seria muito útil para as nossas relações bilaterais, temos que virar a cooperação para o domínio económico, e o que é mais importante, o agro-industrial”, frisou Vladimir Tararov.

Segundo o diplomata russo, no encontro com João Lourenço (o general Presidente formado e formatado na Rússia) foram também abordadas questões saídas do fórum económico na cimeira de Sochi, tendo igualmente agradecido em nome do seu governo a participação do Presidente angolano naquele evento.

O embaixador russo em Angola frisou que a cooperação iria ser desenvolvida nos domínios turístico, humanitário, formação de quadros, extracção de diamantes, desenvolvimento industrial e cultura.

No dia 28 de Abril de 2022, Vladimir Putin falou ao telefone com o seu camarada João Lourenço, por iniciativa do Presidente do MPLA. Bons e velhos amigos serviam (na altura) exactamente para isso. Na altura admitia-se a possibilidade de o MPLA usar em Angola a estratégia russa na Ucrânia, alegando que era a única maneira de se defender era “desnazificar” a UNITA… No entanto, Putin falhou. João Lourenço virou-se (isto é como quem diz) para Joe Biden.

Segundo a agência russa RIA Novosti, a pedido de João Lourenço, o Presidente Putin informou, na altura, “sobre as causas e objectivos da operação militar especial para proteger o Donbass e também fez avaliações fundamentais da situação das negociações com representantes ucranianos”.

A “satisfação com o nível de relações amistosas” entre Angola e Rússia “foi expressa por ambos os lados”, indicou a agência russa. “Por ambos os lados”, recorde-se.

“Os compromissos com o seu desenvolvimento, incluindo a cooperação das esferas comercial, económica, científica e técnica” foram igualmente assinalados na conversa, adiantava a agência de propaganda do regime russo.

Antes, a 3 de Março, Sergei Lavrov acusou os líderes ocidentais de terem planos para uma “verdadeira guerra” contra a Rússia, que só poderá ser nuclear. Eritreia, Bielorrússia e Coreia do Norte subscrevem sem rodeios. Angola e Moçambique também subscreveram mas de forma não formal, como o MPLA explicou em “off” ao chefe Putin. Entretanto, apesar de general formado, condecorado e formatado pelos russos, João Lourenço mandou (até ver…) o seu querido líder (Putin) dar uma volta ao bilhar grande.

“Se algumas pessoas estão a planear uma verdadeira guerra contra nós, e eu penso que estão, deveriam pensar cuidadosamente”, disse Lavrov. “Não deixaremos que ninguém nos desestabilize”, assegurou. Bem que poderia parafrasear Agostinho Neto e dizer que “não vamos perder tempo com julgamentos”.

Se calhar, porque a UNITA tinha, na altura, sobre este assunto uma posição diametralmente oposta à do MPLA, admitia-se que os sipaios do MPLA iriam utilizar na campanha eleitoral a tese de que UNITA era um partido neonazi. Não o fizeram com todas as letras, mas andaram lá perto. Mas, afinal, a UNITA também tinha razão nesta matéria da Rússia/Ucrânia, tal como viria a reconhecer João Lourenço.

Na altura, o embaixador norte-americano em Luanda, Tulinabo Salama Mushingi, afirmou que a posição assumida por Angola (MPLA) de não-condenação da invasão russa da Ucrânia não afectaria a relação com os Estados Unidos, garantindo que os dois países iriam “continuar a trabalhar juntos”.

Angola, disse Tulinabo Salama Mushingi, é uma das quatro parcerias estratégicas dos EUA em África e irá prosseguir dessa forma. “Para nós, um voto sobre este assunto não afecta a nossa relação, vamos continuar a trabalhar juntos”, afirmou.

Depois, Angola absteve-se na votação da Assembleia Geral da ONU que condenou a invasão da Ucrânia pela Federação Russa com 145 países a favor e cinco contra. No total, 35 países abstiveram-se, incluindo 17 africanos. Ao abster-se de condenar o agressor, ao contrário da UNITA, o MPLA assumiu a condenação do agredido. Só seria preocupante se Angola não fosse uma sólida democracia como é a Rússia, a Eritreia ou a Coreia do Norte…

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